IEram já oito horas e anoitecia. Uma bela noite de sexta de abril, bastante fresca e iluminada.
Vinha deambulando pelas ruas do Centro, ali pelas vielas que circunvizinham a Praça Floriano, rumando em direção a Carioca.
Atravessar a pé as ruas do Centro a noite é um lance de bravura. É tarefa incomum. Semelhante ação requer certo desprendimento da vida. O notívago que se arrisca a fazer tal insensatez possui certa disposição ascética, um desapego da matéria cujo estado foi tão bem retratado por Tertuliano em seu De Jeujum:
“Descarregando-se do seu sangue, fardo pesado e importuno da alma impaciente por fugir”. Isso porque, no Centro do Rio, as criaturas sombrias se encontram por todos os cantos.
Os tempos são difíceis. Nas ruas a miséria é cada vez maior. Gente se lança na esperança de fugir a carestia vendendo toda sorte de bugigangas. Nas imediações do Teatro Municipal, o panorama era lúgubre. Despontava em toda parte mulambos já esquálidos pela fome, em busca desesperada por alguns trocados. Velhas mulatas com as faces escaveiradas e os cabelos encanecidos e desgrenhados. Era a imagem da própria miséria. Percebi um velho cafuzo desmaiar na calçada. Sem duvida estava sendo vencido pela inanição. Noutro canto uma rapariga parda oferecia inutilmente as tetas ressequidas ao bebe de colo. Muitos largados nas calçadas, de corpos esquálidos e abatidos, baixavam as cabeças como que resignados ao destino apavorante que não aceitava relutância.
O cenário era nebuloso.
E lá ia eu. Passava em meio a esse bando de escorraçados sociais. Indiferente a própria integridade física. Absorto nos pensamentos mais angustiosos que se possa ter sobre a mísera, efêmera e precária condição humana.
Doutro lado do quarteirão, num desses botecos cuja sujidade é abaixo do tolerável, bandos de trabalhadores e trabalhadoras de baixa-qualificação se inflamavam ao som de forro e ao sabor da embriaguez:
“Amor de rapariga não vinga, não. Não tem sentimento, não tem coração. Eu sei que um dia ele vai perceber....”
Estafado de pervagar, parei e pus-me em pé a observa-los no patamar do estabelecimento.
A maioria dos homen convencionais, que consagram a sua misera e efêmera vida, a elevarem-se na opinião de terceiros, ao contemplarem toda essa gente se estafando em diversões mundanas, não deixarão de contempla-los sem um que de inveja e ressentimento. Estoutro parece diverti-se indiferentes as condecorações, cargos e títulos, que aqueles tanto anseiam e labutam, consumido parte da existência, ainda que sob o custo de perigos, aborrecimentos e enfados. Para entendê-los impera-se antes de tudo, coloca-los sob o prisma instintivo e fisiológico, e não sob a ótica social, política e econômica. A música prosseguia:
Que falta eu sinto de um bem
Que falta me faz um xodó
Mas como eu não tenho ninguém
É uma questão que ultrapassa em muito as condições materiais, de oportunidades e os antagonismos de classes. É antes de tudo uma questão de instinto. Os moralistas sociais reduzem a diversão do homem de mentalidade estreita e simples, a conceitos estultos como alienação, hegemonia e escape. É um equivoco desses idiotas veem no simples prazer carnavalesco, burlesco e picaresco dessa gente, algo de condenável, segundo o prisma de categorias abstratas, desconexa do mundo concreto e dos afetos. Ignorância crassa a respeito do perdulário riquíssimo de tipos que constituem o gênero humano. As diversões simplórias da plebe tais como assistir a partida de seu time de coração, flanar com os companheiros, degustar sua cerveja, ir à caça de uma patuscada é perfeitamente condizente com a compleição estreita do homem medíocre. E a quem eu posso odiar mais que tudo em nossos dias? As canalhas comunistas e progressistas, que com a sua verborragia tacanha, bem como seu instinto de ressentimento e vingança, induz o homem simples ao ódio de classe, instituições, sanções sociais, a moral, o gênero, e até o próprio Deus. Tornando-o discreto medíocre num ser ressentido e invejoso. E conseguintemente envenenado todo sua existência com vingança e minando seu divertimento. O que eu não tolero em particular em Karl Marx, e seus discípulos da vingança tais como Gramsci, é que induziram a plebe e arraia-miúda a uma vida em função do rancor, mal indisposta para consigo mesmo, desviando-os da inocência, asseamento e outras tantas qualidades que lhes são características.
Prossegui com a minha caminhada e também meus devaneios.
No Largo da Carioca, abeirando o trecho da entrada da estação de metro, suspendi o passo. Lancei a vista acima ao cume da colina do Morro do Santo Antonio, e avistei aquela edificação garbosa e adorável que é o Convento de Santo Antonio. A vista do prédio sacro transladou a minha mente ao influxo de uma salutar atmosfera barroca. Esmiuçado a minha alma, peguei-me surpreendido a aspirar um ideal de vida, que sempre acalentei secretamente. Vi-me voluntariamente enclausurado em um convento seiscentista jesuíta. Comodamente assentado no pátio, folheando os sermões de Antonio Vieira. No centro do adro, as folhas de uma amendoeira farfalhavam ao sabor de uma suave viração. Lá dentro os irmãos ensaiavam um canto gregoriano. Gozando de sossego beatífico, renunciava com o maior prazer todos os haveres e as aventuras fugazes e fantasmagóricas, que a vaidade mundana pode ofertar.
Post Murum podia-se ouvir bem ao longe e com bastante esforço, o arruído e a vigarice da asquerosa democracia, bem como de todos os abomináveis princípios de 1789.
Ri-me desses devaneios idílicos, deixei-os de lado, e reencetei minha caminhada.
Di-lo episódio aparentemente trivial, porem expressivo.
Embarafustei por uma daquelas ruelas que circunvizinham a Sete de Setembro. Cessei o passo frente a uma lanchonete. Adentrei numa pastelaria chinesa, dessas que proliferam mesmo nos recôncavos mais obscuros da cidade.
Em meio aos rostos macilentos dos trabalhadores exaustos da labuta diária, uma face cândida, sincera, inocente e ligeira, atrás do balcão, chamou-me a atenção. Era um chinês de nome Léi, ou algo parecido (no Brasil adotou o nome de Luiz). Rapaz entre os dezoito e dezenove anos. Oriundo da região Cantão, veio com dois amigos trabalhar no Brasil, a convite de mafiosos, e em virtude de suas habilidades culinárias sobressalentes.
Puxei conversa. Dirigindo-lhe perguntas, a principio, referente a banalidades do serviço para em seguida indaga-lo de sua terra e vida. Não se importunou com a minha bisbilhotice, muito pelo contrário, ficou animado à medida que percebia meu interesse. Era uma natureza assaz maviosa, não obstante ocultar uma fortaleza inexpugnável.
Notei que se esforçava em entender o português. Mediante a leitura de uma cartilha das Testemunhas de Jeová, em que estava contido um trecho de João 15.
- Se quiser eu posso te ensinar, Léi – propus-me.
- Você consegue me ensinar? Inquiriu-me numa modéstia e vivacidade impares. Era um tipo adorável.Debruçou sobre o balcão, franziu o sobrolho e adotou um semblante circunspecto, bem característico daqueles povos submetidos aos influxos dos pensamentos de Confúcio e Lao Zi, e que desde sempre apreciei. Aprendia com uma velocidade e facilidade de deixar qualquer um estarrecido.
Observei que certas passagens o encantavam.
- Gostou do que leu, Léi?
- Muito. É muito, bonito.
- Qual parte que gostou mais?
- Dessa daqui “Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei”. É muito bonito, muito bonito - Seu rosto ficou radiante.
- Tem irmãs e primas, Léi?- Inquiri
- Tenho duas irmãs. E muitas primas que não sei nem quantas são.
- Elas devem ser muito bonitas?
- Se são bonitas? Hã. No Cantão inteiro, poucas meninas são tão bonitas quanto elas – declarou-me num tom pudico e inocente que, mas parecia de uma donzela.
- E sua mãe, Léi?
- Minha mama é morta – Respondeu-me fitando o firmamento, numa voz entrecortada e embargada. Naquele momento seus olhos marejados e expressão quase angélica, me marcaram mui profundamente e indelevelmente.
Digo peremptoriamente que se trata de um ser fora do ordinário. Considero essa conversa trivial um dos momentos mais aprazíveis de minha vida.
Dias depois retornei a pastelaria a sua procura. Fui informada de forma vaga que havia ido a São Paulo, onde seus eficientes serviços estavam sendo requisitados, numa rede de pastelarias pertencente a mafiosos.
Seres há que parecem prendados de sobejo pela Providência, que se torna sacrilégio recear pela sua sorte. E não receio pelo seu destino. Porem, como andará meu Léi?
Reencetei a caminhada e com ela minhas especulações.
Ao atingir o trecho que corresponde à esquina entre a Sete de Setembro e a Praça do Castelo, testemunhei cenas que só de olha-las minhas vistas turvaram.
Agrupamentos de andrajos e miserandos fitavam-me com olhar de rapina insaciável. Espetáculo dos mais tristes e horripilantes. “Trajados” de camisas esfarrapadas, homens que em sua maioria tinham aspectos de dar asco. Os infortúnios marcavam-lhes as faces pálidas, escaveiradas e perturbadoras.
Testemunhei cena sugestiva que sintetiza a miséria e a barbárie de séculos acumulados. Um infante raquítico e deformado sugando a custo o leite escasso das tetas flácidas de uma cafuza. Essa de um rosto acabrunhadoramente macilento e triste, num mutismo decorrente da exaustão de sua luta inglória contra um destino cruento e inexorável marcado pelas privações. Era a condensação orgânica do legado dos séculos de escravismo, inflacionismo, subdesenvolvimento, banco central, imposto de renda, falhas do nacional-desenvolvimentismo, da sociedade de mercado, do lula-petismo e do progressismo.
Era de amedrontar o coração mais empedernido.
Noutro canto bando de meninos imundos e de aspectos repugnantes, agrupavam-se como que esfomeados, compartilhando um cachimbo em que torravam pequenas pedras brancas. Inscientemente buscavam no consumo da pedra o consolo para suas desolações, infelicidades e misérias.
Era um simulacro do báratro, uma prévia da Geena.
TDA eleita foi Evelin ( não tenho certeza se esse era o nome). Recheada de belas qualidades. 2.0. No verdor da mocidade. Jeito juvenil, por demais doce e encantadora. Inicialmente tímida e retraída, mas com o fluir da conversa dá vazão a toda licenciosidade enclausurada no recôndito do seu ser. Tem o ar Cândido, calmo e jovial.
Cabelos lisos, longos, pretos e naturais. Tez branca e enrijecida. Seios pequenos e arrebitados. Bunda pequena, porem durinha e na medida de sua compleição. Quando sorria, a arcada dentária parecia mais um conjunto de perolas de tão alvinitente que era.
Mama no coro. Beija sem restrição. Deixa ser chupada. Cavalgar e kika com vigor e frenesi admirável. Só não permite o anal, disse ter tentado em antanho, mas por conta da dor, tomou traumas. Labutou em alhures e se encontra nessa vida desde os 18.
Positivo e recomendo.