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Uma dama que duvidava de tudo.
I
“Qual a finalidade de tudo isso? Há por de trás de toda essa ...
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Uma dama que duvidava de tudo.
I
“Qual a finalidade de tudo isso? Há por de trás de toda essa caça um tesouro encoberto?” Inquiria Sônia de si para consigo, no banco traseiro do taxi, que rasgava as vias do Centro em uma linda noite de agosto, estrelada e fresca. O espírito da mulher se agitava num tormento que já lhe enervava há anos, e se intensificara nos últimos meses.
“Olho para todos os lados e só me deparo com obscuridade e inquietação. O acaso não pode me dar um sinal de consolação?” Tentava responder tibiamente. “Se ao menos visse as marcas de um Criador, descansaria na paz e na fé. Mas me faltando a fé a qual aspirei milhares de vezes, e me sobrando dúvidas, me encontro num estado lastimável. Na condição em que estou, sou ignara de quem sou e de como devo agir para me sentir bem comigo mesma. Meu coração aspire um sumo repouso, mas as duvidas dilaceram qualquer possibilidade de descanso.Ai, como eu invejo aqueles que descansam em uma fé ingênua”
Em seguida Sônia dirigiu o olhar à janela, viu um homem semi-ebrio com o rosto radiante, puxando uma carroça, e cantarolando tresloucadamente. “ Esse sujeito, pelo menos, tem algo que lhe de prazer, e lhe faça rir. Já eu, embora há anos muito persegui, nada encontrei”
Meneou a cabeça rapidamente, trocou de posição no banco como se tentasse fugir de um fardo, tal era a agitação que o influxo quase incessante de ideias tormentosa lhe causava.
A hostilidade para consigo e para com o mundo mancomunavam eu seu interior, deixando-a num estado de pressurosidade que excedia os limites que a frágil natureza humana permite suportar.
“Tudo aqui me parece tão hostil. Qual a serventia de todas essas igrejas antigas, todos esses santos esculpido?. Apenas para camuflar que nos ressentimos e invejamos uns aos outros. Para amansar os seus instintos e suas baixezas, os homens precisam se curvaram diante de cinco judeus e a uma judia? Anseio por sumir desse covil, tudo por aqui me suscita aversão e ódio, oprimem-me como se fosse um carrasco”
Viu passar pela janela dois jovens pivetes de aspectos sujos, que riam de brejeirices típicas da idade. A risada dos rapazolas soou a Sônia como uma afronta. “ Do que esses vermes riem? Por que não me acontece algo que proporcione semelhante felicidade?”
No automóvel ia do desalento ao desespero. O coração comprimia-se no peito arfante. Olhava com aversão e inveja os transeuntes, ao mesmo tempo em lhe perpassava na mente sua vida. Há anos vivia em escuridões sem que ninguém notasse. Não era feliz, nem nunca fora.
“Não há uma misera situação em que minha vida não seja esse fardo horripilante? O acaso me fadou a essa pungente agonia? Embora tentei de tudo para me esquecer, não logrei iludir-me com os prazeres sensuais e tantas outras mesmices ordinárias. De onde me vem essa insuficiência de vida? Pera. E eu sei a causa dessa vileza.Sim, eu sei. É tudo culpa dessa maldita consciência. Basta uma porção de consciência nesse infeliz vigésimo primeiro século e a alma fervilha as raias do tormento. Estou convencida que a consciência em demasia é enfermidade. Felizes são os fideistas. Uma vez que a realidade se desnuda, já nada podemos. Há como eu sonho findar com todas as ansiedades que me torturam”
Observou a aglomeração de pessoas num buteco imundo, cuja sujidade era abaixo da critica. Homens e mulheres começavam a se embebedar para porem para fora todos os seus instintos, que as convenções encarceram a fero custo. A diversão daquela gente soava a Sônia como uma broma insuportável.
“ Olha só toda essa grei. É impossível existir coisa mais hedionda e selvagem. A maioria se esfola quase todo o tempo para sobreviver. E o pouco que lhe sobra de tempo, procuram diversão para não serem esmagados pelo tédio. É o destino da vida humana. Ah, como eu os invejo. Juro. Desejaria ser um mero trabalhador braçal, de engenho estreito, cuja grande ambição era garimpar um lugar melhor a mesa, sem a ciência de que nossas vidas não passam de ilusão, “Que é o homem mortal para que te lembres dele?” . Poderia ser mais feliz se não fosse a consciência.”
Sentia-se tão prostrada, tão aniquilada, tão sem animo que se largava escarrapachada no banco traseiro do automóvel. Tomada de pasmos, quase que inconsciente, sentindo abandonar as forças.
“Como estou cansada. Desejo dormir.”
Mas sem dar chance de repousos, as dúvidas vinham assenhorear sua mente, mais uma vez:
“. Há porventura, coisa mais vil do que, como eu, claudicar uma existência inútil em todos os aspectos? Será que eu extirpei toda chance de felicidade a força de um querer demasiado? Vago por esse destino apático. Por que não haveria de abandonar a mesa, quando o banquete torna-se insípido? Afinal, tudo nessa vida tem fim.”
- Estamos bem próximo, madame – disse o motorista num tom grave e taciturno.
“ Para onde estou indo?” Em seguida Sonia relanceou o olhar para a janela, e olhou a fachada de uma loja que vende produtos naturebas. Observou a figura caricatural de um Buda, e entregou-se novamente aos seus pensamentos, embalada pela rodar do automóvel.
“ E se eu transcendesse a tudo isso? Sim. Se sacrificasse tudo o que eu fui até hoje em prol de uma nova experiência. Me retiraria para uma zona inóspita, cortaria todos os laços com o burburinho mundano. Contemplaria o vazio essencial de todo o fenômeno humano. Extirparia qualquer anseio, qualquer ambição, todo anelo, cortaria todo o enraizamento com esse corpo, apagaria o fogo das paixões .Tendo constado toda a impermanência desse vale de lagrimas, experimentado toda a vacuidade desse mundo substancial, me desapegaria de toda essa plano fenomenal e ascenderia a um plano restrito. Penetraria em uma realidade mais agradável que a de um gentleman, fruiria de uma atmosfera acessível a uns poucos tipos, gozaria do incondicionado...Ora essa – respirou fundo -..Que estupidez estou dizendo..Melhor teria sido se não tivesse sido parida. “pues el delito mayor del hombre es haber nacido” Malditas foram as tetas que me amamentaram. Para onde estou indo nesse taxi? Como queria dar um fim a tudo isso.”
Adiante notou uma imagem de Cristo grafitada e não menos caricatural que a de Buda:
“ E se eu vivesse como o Cristo. Não como aquele ente ressentido pintado pela tradição, e vinculado as instituições clericais. Mas aquele de Gólgota. Aquela figura humana, simples, mansa, destituída de ódio. Aquele que não repelia o mais ínfimo dos seres, que renunciava todo o triunfo pessoal, que abominava toda a cólera e oferecia a outra face. Uma praxi de vida livre das peias dos dogmas. Um misto de tolstoismo, franciscanismo e ioguismo talvez me cairia bem. Traria cura aos enfermos, consolaria e animaria os abatidos, repartiria o pão com o faminto. Onde quer que estivesse, no fundo do precipício ou no cimo do penhasco, encontraria ao menos um alguém para amar e ser amada. Meu futuro seria amar e ser amada. Seria a mais bem-aventurada dos seres, um instrumento nas mãos do Supremo Ser, viveria o paraíso na terra, não obstante as misérias, as doenças e a morte...E olha eu aqui novamente em mais um disparate..Como estou farta”
Sônia pousou a cabeça na janela do automóvel. Ergueu os olhos ao firmamento como que procurando o causador de sua desdita. E o solilóquio agônico prosseguiu:
“Quem ou que me fez tão infeliz? Será que meu caráter inatamente não corresponde a felicidade? Minha natureza, me dispõem inexoravelmente para a infelicidade? Sim, pois se é verdade que “Vivemos não como queremos,mas como podemos”, e minha compleição é incompatível com a bem-aventurança, todo o esforço que eu fizer visando a felicidade estará fadado ao fracasso. Por mais que eu logre obter aquilo que o mundo julga como sucesso, e agarra-se as alternativas de felicidade, no fundo só conseguirei aborrecimentos e cansaços, pois se indisporiam ao meu caráter inatamente inclinado para a felicidade. Não me adianta trocar de camisas, não me ajustaria, não me adianta tomar por outras, custaria meus nervos. A verdadeira Sônia é essa aberração infeliz e cheia de duvidas”
Em seguida, Sônia percebeu frases pichadas em um prédio histórico:
“ Bolsonaro nazi-fscista”, “ Mulher, você é linda, empodere-se” , “ Contra o capital, sexo anal” , “ Tire os seu rosário do meu ovário” , “ Todo o poder ao povo”....
“Como eu invejo e simultaneamente me enojo desses boçais progressistas..Ao menos eles encontraram culpados para o seu estado miserável. Encontram atrás de seu desespero, responsáveis. No fim das contas eles buscam um bode expiatório para culpar seus destinos insuportáveis, saciando seu ressentimento a custa de um suposto causador. Esse bode expiatório pode ser o que for, uma classe econômica, um sexo, a ordem social, as instituições, uma religião ou o próprio Deus, que seja. A rebelião contra a injustiça camufla um enfado para consigo mesmo. Por detrás de todo socialista ou ateu militante jaz um miserável, como eu, mal disposto para consigo próprio, repleto de ódio para com a própria vida. Não importa o que for. Precisamos encontrar um culpado para as nossas mazelas, ou melhor, inventar um causador. Nem que para isso precisamos falsear a própria historia com narrativas esdrúxulas. Precisamos de um culpado para nossas desgraças,pois se não seremos fisgados pelo desespero. Ao menos eles encontraram culpados e eu?”
Enquanto as tormentas de pensamentos tenebrosos enxurravam sua mente, Sonia tornou a fitar o firmamento. Esmorecendo diante dos sentimentos convulsos que lhe invadiam, pensava ela no frágil destino humano e simultaneamente amaldiçoava o próprio destino.
“ Que tenho eu a fazer nesse mundo? Tentar conservar um corpo que vai perecendo, e já sendo tomado pelas primeiras rugas? Quantos céus e quantos astros permeiam esse universo desconhecido? Somos insignificantes vermes numa crosta de lama, e não obstante nossas dores, nos esforçamos em infernizar-nos uns aos outros com toda sorte de disputas, invejas, maledicências, porfias, malquerenças e complexos de inferioridade”
Semelhantes reflexões sombrias acabrunhavam ainda mais o já esgotado espírito da mulher.
- Chegamos, madame! – disse o taxista. No exato momento em que o carro parava na altura da Rio Branco com esquina com a Rua da Alfândega. Essa por sua vez desemboca na Estação de metro Uruguaiana, destino para o qual Sônia seguia, sem saber o porquê e para que.
II
Enquanto Sônia deixava o taxi e embarcava para a estação, um fato aparentemente banal se dava nas escadas da estação. Perdoa-me o leitor se porventura enfado sua paciência com algo que foge da narrativa. Mas há fatos aparentemente frívolos que carregam um simbolismo formidável, e que por isso são dignos de registros. Os fatos mais frívolos protagonizados pelas criaturas mais nulas, quiçá mais infames aos olhos dos homens, são os instrumentos mais poderosos da divindade. Eis a prostituta Maria Madalena excedendo em diafaneidade a Beatriz dantiana, ao lavar os pés do forasteiro Nazareno com um perfume em alabastro, presente de um dos seus sete amantes.
Uma mulher de 32 anos, tez amorenada, grávida de seis meses, preparava-se para descer cheia de sacolas, as escadas que dão para a plataforma de embarque. Cantando de si para si:
“ Então eu direi, ou, ou, abra-se o mar... pulando e dançando em sua presença”
Pirusão ( que vinha de um TD, que será descrito na parte IV) notou a mulher, viu o seu embaraço, e mostrou-se solicito.
- Espera. Eu te ajudo.
- Ai, Obrigada. Chegou em boa hora – disse a mulher em tom expansivo!
Há comunhão que se dão pelos olhos, independendo do querer. A olhares e maneiras que indicam a enfermidade ou superabundância de uma alma. Há pessoas que nos agitam as almas apenas por suas maneiras. Há pessoas que apenas com sua presença nos enleva, podemos ler suas almas apenas pelos seus olhos. A Providência parece querer se manifestar entre os homens pelos meios mais modestos. Aqui a pompa, jactância e o poder convencional não importam. Tão prontamente entrou em contato com aquela mulher, Pirusão sentiu-se subjulgado pelas suas maneiras, doces, mansa, afável e vivaz. Aquela simples mulher parecia envolta em algo celeste, melhor dizendo, parecia ter saído de um evento extraordinário.
- Que barrigão. São quantos meses?
- Acaba de fazer seis. E acabei de descobrir o sexo. Será um homem – respondeu a mulher, com um sorriso afável.
- Parabéns. Que tenha uma bela vida. Já escolheu o nome?
- Emanuel – respondeu, acariciando a madre!
É um belo nome – retorquiu Pirusão esboçando um tímido sorriso.
III
A medida em que se encaminhava para plataforma de embarque, Sônia perguntava a si mesmo “ Que eu irei fazer? Para onde irei?”
Tudo lhe causava impressão terrível e nauseante. “ Para que vivem todos esses homens? O homem em si não é finalidade de nada. Somos um amontoado de partículas acidentais que em breve se dissolverá” Uma esquisita debilidade física se apossava de seu ser. Seu coração comprimia-se dolorosamente. Seu rosto estampava fadiga extrema.
Caminhando a passos largos, na metade da plataforma passou rente a Pirusão e a mulher grávida. Os olhares de Sônia e da grávida se entrecruzaram. “ nossa. Quanta beleza há nela. Que expressão mais radiante. Se talvez esse tivesse tido um filho, as coisas teriam ocorrido diferente. Se daquela vez eu e ele tivéssemos... Por que falo como se tudo houvesse acabado? Para onde vou?”
A fisionomia inquietante de Sônia não escapou a mulher grávida. Intuitivamente essa adivinhou que alguma tragédia era iminente e que Sônia seria a protagonista. Franziu o sobrolho e fitou Sônia caminhar tropegamente para ponta extrema da plataforma. “ para que se isolar tão longe na plataforma de embarque. A essas horas o que não faltam são assentos vagos”. Indagou a grávida de si para si.
Sonia ficou a olhar inerte o trilho, os dentes intensamente cerrados e os olhos esbugalhados. Estava febricitante. Seu semblante era assustador. Balbuciou a seguinte expressão que sintetizava todas as suas sensações e intenções: “ Não vejo motivo para existir. É agora.” Os ruídos nos trilhos anunciavam a chegada do metro.
- Ela vai se matar - Berrou a grávida com um grito de desespero que reverberou na estação.
- Hum - exclamou aturdido Pirusão, olhando para a grávida e tentando entender a situação.
Seguiu-se o estrupido de um corpo sendo espatifado. E a conseguinte freada brusca do metro. Uma convulsão se fez notar entre passageiros e funcionários.
Nesse exato instante,Sônia não mais existia nesse mundo!
IV
A eleita foi Bianca (acho que era esse o nome). Morena, cabelos curtos, encorpada, big bunda, seios médios, sorriso cativante.
De inicio tímida, mas com o passar da conversa vai se soltando.
Completa. Beija sem restrição, mama no couro, kika, ppmm, anal.
Positivada e recomendada.
I
“Qual a finalidade de tudo isso? Há por de trás de toda essa caça um tesouro encoberto?” Inquiria Sônia de si para consigo, no banco traseiro do taxi, que rasgava as vias do Centro em uma linda noite de agosto, estrelada e fresca. O espírito da mulher se agitava num tormento que já lhe enervava há anos, e se intensificara nos últimos meses.
“Olho para todos os lados e só me deparo com obscuridade e inquietação. O acaso não pode me dar um sinal de consolação?” Tentava responder tibiamente. “Se ao menos visse as marcas de um Criador, descansaria na paz e na fé. Mas me faltando a fé a qual aspirei milhares de vezes, e me sobrando dúvidas, me encontro num estado lastimável. Na condição em que estou, sou ignara de quem sou e de como devo agir para me sentir bem comigo mesma. Meu coração aspire um sumo repouso, mas as duvidas dilaceram qualquer possibilidade de descanso.Ai, como eu invejo aqueles que descansam em uma fé ingênua”
Em seguida Sônia dirigiu o olhar à janela, viu um homem semi-ebrio com o rosto radiante, puxando uma carroça, e cantarolando tresloucadamente. “ Esse sujeito, pelo menos, tem algo que lhe de prazer, e lhe faça rir. Já eu, embora há anos muito persegui, nada encontrei”
Meneou a cabeça rapidamente, trocou de posição no banco como se tentasse fugir de um fardo, tal era a agitação que o influxo quase incessante de ideias tormentosa lhe causava.
A hostilidade para consigo e para com o mundo mancomunavam eu seu interior, deixando-a num estado de pressurosidade que excedia os limites que a frágil natureza humana permite suportar.
“Tudo aqui me parece tão hostil. Qual a serventia de todas essas igrejas antigas, todos esses santos esculpido?. Apenas para camuflar que nos ressentimos e invejamos uns aos outros. Para amansar os seus instintos e suas baixezas, os homens precisam se curvaram diante de cinco judeus e a uma judia? Anseio por sumir desse covil, tudo por aqui me suscita aversão e ódio, oprimem-me como se fosse um carrasco”
Viu passar pela janela dois jovens pivetes de aspectos sujos, que riam de brejeirices típicas da idade. A risada dos rapazolas soou a Sônia como uma afronta. “ Do que esses vermes riem? Por que não me acontece algo que proporcione semelhante felicidade?”
No automóvel ia do desalento ao desespero. O coração comprimia-se no peito arfante. Olhava com aversão e inveja os transeuntes, ao mesmo tempo em lhe perpassava na mente sua vida. Há anos vivia em escuridões sem que ninguém notasse. Não era feliz, nem nunca fora.
“Não há uma misera situação em que minha vida não seja esse fardo horripilante? O acaso me fadou a essa pungente agonia? Embora tentei de tudo para me esquecer, não logrei iludir-me com os prazeres sensuais e tantas outras mesmices ordinárias. De onde me vem essa insuficiência de vida? Pera. E eu sei a causa dessa vileza.Sim, eu sei. É tudo culpa dessa maldita consciência. Basta uma porção de consciência nesse infeliz vigésimo primeiro século e a alma fervilha as raias do tormento. Estou convencida que a consciência em demasia é enfermidade. Felizes são os fideistas. Uma vez que a realidade se desnuda, já nada podemos. Há como eu sonho findar com todas as ansiedades que me torturam”
Observou a aglomeração de pessoas num buteco imundo, cuja sujidade era abaixo da critica. Homens e mulheres começavam a se embebedar para porem para fora todos os seus instintos, que as convenções encarceram a fero custo. A diversão daquela gente soava a Sônia como uma broma insuportável.
“ Olha só toda essa grei. É impossível existir coisa mais hedionda e selvagem. A maioria se esfola quase todo o tempo para sobreviver. E o pouco que lhe sobra de tempo, procuram diversão para não serem esmagados pelo tédio. É o destino da vida humana. Ah, como eu os invejo. Juro. Desejaria ser um mero trabalhador braçal, de engenho estreito, cuja grande ambição era garimpar um lugar melhor a mesa, sem a ciência de que nossas vidas não passam de ilusão, “Que é o homem mortal para que te lembres dele?” . Poderia ser mais feliz se não fosse a consciência.”
Sentia-se tão prostrada, tão aniquilada, tão sem animo que se largava escarrapachada no banco traseiro do automóvel. Tomada de pasmos, quase que inconsciente, sentindo abandonar as forças.
“Como estou cansada. Desejo dormir.”
Mas sem dar chance de repousos, as dúvidas vinham assenhorear sua mente, mais uma vez:
“. Há porventura, coisa mais vil do que, como eu, claudicar uma existência inútil em todos os aspectos? Será que eu extirpei toda chance de felicidade a força de um querer demasiado? Vago por esse destino apático. Por que não haveria de abandonar a mesa, quando o banquete torna-se insípido? Afinal, tudo nessa vida tem fim.”
- Estamos bem próximo, madame – disse o motorista num tom grave e taciturno.
“ Para onde estou indo?” Em seguida Sonia relanceou o olhar para a janela, e olhou a fachada de uma loja que vende produtos naturebas. Observou a figura caricatural de um Buda, e entregou-se novamente aos seus pensamentos, embalada pela rodar do automóvel.
“ E se eu transcendesse a tudo isso? Sim. Se sacrificasse tudo o que eu fui até hoje em prol de uma nova experiência. Me retiraria para uma zona inóspita, cortaria todos os laços com o burburinho mundano. Contemplaria o vazio essencial de todo o fenômeno humano. Extirparia qualquer anseio, qualquer ambição, todo anelo, cortaria todo o enraizamento com esse corpo, apagaria o fogo das paixões .Tendo constado toda a impermanência desse vale de lagrimas, experimentado toda a vacuidade desse mundo substancial, me desapegaria de toda essa plano fenomenal e ascenderia a um plano restrito. Penetraria em uma realidade mais agradável que a de um gentleman, fruiria de uma atmosfera acessível a uns poucos tipos, gozaria do incondicionado...Ora essa – respirou fundo -..Que estupidez estou dizendo..Melhor teria sido se não tivesse sido parida. “pues el delito mayor del hombre es haber nacido” Malditas foram as tetas que me amamentaram. Para onde estou indo nesse taxi? Como queria dar um fim a tudo isso.”
Adiante notou uma imagem de Cristo grafitada e não menos caricatural que a de Buda:
“ E se eu vivesse como o Cristo. Não como aquele ente ressentido pintado pela tradição, e vinculado as instituições clericais. Mas aquele de Gólgota. Aquela figura humana, simples, mansa, destituída de ódio. Aquele que não repelia o mais ínfimo dos seres, que renunciava todo o triunfo pessoal, que abominava toda a cólera e oferecia a outra face. Uma praxi de vida livre das peias dos dogmas. Um misto de tolstoismo, franciscanismo e ioguismo talvez me cairia bem. Traria cura aos enfermos, consolaria e animaria os abatidos, repartiria o pão com o faminto. Onde quer que estivesse, no fundo do precipício ou no cimo do penhasco, encontraria ao menos um alguém para amar e ser amada. Meu futuro seria amar e ser amada. Seria a mais bem-aventurada dos seres, um instrumento nas mãos do Supremo Ser, viveria o paraíso na terra, não obstante as misérias, as doenças e a morte...E olha eu aqui novamente em mais um disparate..Como estou farta”
Sônia pousou a cabeça na janela do automóvel. Ergueu os olhos ao firmamento como que procurando o causador de sua desdita. E o solilóquio agônico prosseguiu:
“Quem ou que me fez tão infeliz? Será que meu caráter inatamente não corresponde a felicidade? Minha natureza, me dispõem inexoravelmente para a infelicidade? Sim, pois se é verdade que “Vivemos não como queremos,mas como podemos”, e minha compleição é incompatível com a bem-aventurança, todo o esforço que eu fizer visando a felicidade estará fadado ao fracasso. Por mais que eu logre obter aquilo que o mundo julga como sucesso, e agarra-se as alternativas de felicidade, no fundo só conseguirei aborrecimentos e cansaços, pois se indisporiam ao meu caráter inatamente inclinado para a felicidade. Não me adianta trocar de camisas, não me ajustaria, não me adianta tomar por outras, custaria meus nervos. A verdadeira Sônia é essa aberração infeliz e cheia de duvidas”
Em seguida, Sônia percebeu frases pichadas em um prédio histórico:
“ Bolsonaro nazi-fscista”, “ Mulher, você é linda, empodere-se” , “ Contra o capital, sexo anal” , “ Tire os seu rosário do meu ovário” , “ Todo o poder ao povo”....
“Como eu invejo e simultaneamente me enojo desses boçais progressistas..Ao menos eles encontraram culpados para o seu estado miserável. Encontram atrás de seu desespero, responsáveis. No fim das contas eles buscam um bode expiatório para culpar seus destinos insuportáveis, saciando seu ressentimento a custa de um suposto causador. Esse bode expiatório pode ser o que for, uma classe econômica, um sexo, a ordem social, as instituições, uma religião ou o próprio Deus, que seja. A rebelião contra a injustiça camufla um enfado para consigo mesmo. Por detrás de todo socialista ou ateu militante jaz um miserável, como eu, mal disposto para consigo próprio, repleto de ódio para com a própria vida. Não importa o que for. Precisamos encontrar um culpado para as nossas mazelas, ou melhor, inventar um causador. Nem que para isso precisamos falsear a própria historia com narrativas esdrúxulas. Precisamos de um culpado para nossas desgraças,pois se não seremos fisgados pelo desespero. Ao menos eles encontraram culpados e eu?”
Enquanto as tormentas de pensamentos tenebrosos enxurravam sua mente, Sonia tornou a fitar o firmamento. Esmorecendo diante dos sentimentos convulsos que lhe invadiam, pensava ela no frágil destino humano e simultaneamente amaldiçoava o próprio destino.
“ Que tenho eu a fazer nesse mundo? Tentar conservar um corpo que vai perecendo, e já sendo tomado pelas primeiras rugas? Quantos céus e quantos astros permeiam esse universo desconhecido? Somos insignificantes vermes numa crosta de lama, e não obstante nossas dores, nos esforçamos em infernizar-nos uns aos outros com toda sorte de disputas, invejas, maledicências, porfias, malquerenças e complexos de inferioridade”
Semelhantes reflexões sombrias acabrunhavam ainda mais o já esgotado espírito da mulher.
- Chegamos, madame! – disse o taxista. No exato momento em que o carro parava na altura da Rio Branco com esquina com a Rua da Alfândega. Essa por sua vez desemboca na Estação de metro Uruguaiana, destino para o qual Sônia seguia, sem saber o porquê e para que.
II
Enquanto Sônia deixava o taxi e embarcava para a estação, um fato aparentemente banal se dava nas escadas da estação. Perdoa-me o leitor se porventura enfado sua paciência com algo que foge da narrativa. Mas há fatos aparentemente frívolos que carregam um simbolismo formidável, e que por isso são dignos de registros. Os fatos mais frívolos protagonizados pelas criaturas mais nulas, quiçá mais infames aos olhos dos homens, são os instrumentos mais poderosos da divindade. Eis a prostituta Maria Madalena excedendo em diafaneidade a Beatriz dantiana, ao lavar os pés do forasteiro Nazareno com um perfume em alabastro, presente de um dos seus sete amantes.
Uma mulher de 32 anos, tez amorenada, grávida de seis meses, preparava-se para descer cheia de sacolas, as escadas que dão para a plataforma de embarque. Cantando de si para si:
“ Então eu direi, ou, ou, abra-se o mar... pulando e dançando em sua presença”
Pirusão ( que vinha de um TD, que será descrito na parte IV) notou a mulher, viu o seu embaraço, e mostrou-se solicito.
- Espera. Eu te ajudo.
- Ai, Obrigada. Chegou em boa hora – disse a mulher em tom expansivo!
Há comunhão que se dão pelos olhos, independendo do querer. A olhares e maneiras que indicam a enfermidade ou superabundância de uma alma. Há pessoas que nos agitam as almas apenas por suas maneiras. Há pessoas que apenas com sua presença nos enleva, podemos ler suas almas apenas pelos seus olhos. A Providência parece querer se manifestar entre os homens pelos meios mais modestos. Aqui a pompa, jactância e o poder convencional não importam. Tão prontamente entrou em contato com aquela mulher, Pirusão sentiu-se subjulgado pelas suas maneiras, doces, mansa, afável e vivaz. Aquela simples mulher parecia envolta em algo celeste, melhor dizendo, parecia ter saído de um evento extraordinário.
- Que barrigão. São quantos meses?
- Acaba de fazer seis. E acabei de descobrir o sexo. Será um homem – respondeu a mulher, com um sorriso afável.
- Parabéns. Que tenha uma bela vida. Já escolheu o nome?
- Emanuel – respondeu, acariciando a madre!
É um belo nome – retorquiu Pirusão esboçando um tímido sorriso.
III
A medida em que se encaminhava para plataforma de embarque, Sônia perguntava a si mesmo “ Que eu irei fazer? Para onde irei?”
Tudo lhe causava impressão terrível e nauseante. “ Para que vivem todos esses homens? O homem em si não é finalidade de nada. Somos um amontoado de partículas acidentais que em breve se dissolverá” Uma esquisita debilidade física se apossava de seu ser. Seu coração comprimia-se dolorosamente. Seu rosto estampava fadiga extrema.
Caminhando a passos largos, na metade da plataforma passou rente a Pirusão e a mulher grávida. Os olhares de Sônia e da grávida se entrecruzaram. “ nossa. Quanta beleza há nela. Que expressão mais radiante. Se talvez esse tivesse tido um filho, as coisas teriam ocorrido diferente. Se daquela vez eu e ele tivéssemos... Por que falo como se tudo houvesse acabado? Para onde vou?”
A fisionomia inquietante de Sônia não escapou a mulher grávida. Intuitivamente essa adivinhou que alguma tragédia era iminente e que Sônia seria a protagonista. Franziu o sobrolho e fitou Sônia caminhar tropegamente para ponta extrema da plataforma. “ para que se isolar tão longe na plataforma de embarque. A essas horas o que não faltam são assentos vagos”. Indagou a grávida de si para si.
Sonia ficou a olhar inerte o trilho, os dentes intensamente cerrados e os olhos esbugalhados. Estava febricitante. Seu semblante era assustador. Balbuciou a seguinte expressão que sintetizava todas as suas sensações e intenções: “ Não vejo motivo para existir. É agora.” Os ruídos nos trilhos anunciavam a chegada do metro.
- Ela vai se matar - Berrou a grávida com um grito de desespero que reverberou na estação.
- Hum - exclamou aturdido Pirusão, olhando para a grávida e tentando entender a situação.
Seguiu-se o estrupido de um corpo sendo espatifado. E a conseguinte freada brusca do metro. Uma convulsão se fez notar entre passageiros e funcionários.
Nesse exato instante,Sônia não mais existia nesse mundo!
IV
A eleita foi Bianca (acho que era esse o nome). Morena, cabelos curtos, encorpada, big bunda, seios médios, sorriso cativante.
De inicio tímida, mas com o passar da conversa vai se soltando.
Completa. Beija sem restrição, mama no couro, kika, ppmm, anal.
Positivada e recomendada.